A INFÂNCIA DE MARIA DE LURDES MUTOLA
23/11/2011
Maria de Lurdes Mutola nasceu no dia 27 de Outubro de 1972, na cidade do Maputo. Filha de pai operário dos caminhos de ferro e mãe doméstica. A família, de condição humilde, emigrou de Inhambane na década 70 e fixou residência no Bairro do Chamanculo, nos arredores da cidade do Maputo. O Bairro do Chamanculo era, na altura, uma zona alagada – o nome Chamanculo significa “banho grande. Nesse subúrbio ainda pouco habitado, João Mutola, pai de Maria de Lurdes e Catarina Mutola, sua mãe, decidem construír uma palhota de madeira e zinco. E ali floresce a família Mutola: Gina, Carlitos, Joana e Maria de Lurdes Mutola - a mais nova do casamento João Mutola e Cataria e ainda seis irmãos mais velhos de uma relação anterior a este casamento.
Maria de Lurdes Mutola era conhecida no bairro como Lurdinha. Hoje essa pequena alcunha é conhecida no mundo inteiro. Lurdinhas é a mais nova de dez irmãos da família Mutola. Quando ela ingressou no ensino primário na Escola Mista do Chamanculo jamais poderia imaginar que essa mesma escola ostentaria um dia o seu próprio nome. Hoje o estabelecimento exibe o nome em sua homenagem: Escola Primária Maria de Lurdes Mutola.
No início da década de setenta Chamanuclo era um bairro pobre, sem condições mínimas de saneamento e nem água potável. O seu pai, João Mutola, era um operário ferro-portuário trabalhou a vida inteira para sustentar a sua numerosa família. Construiu a casa da família - uma palhota em madeira e zinco - onde nasceram e ainda vivem os Mutola. As condições do bairro alteraram-se radicalmente com a chegada abrupta de milhares de Moçambicanos fugidos da guerra que assolou o país entre 1976 e 1992. As condições habitacionais de Chamanculo degradaram-se com esta aglomeração de refugiados de guerra. É nesse bairro onde Maria de Lurdes Mutola cresceu, fez amigos com quem ainda hoje partilha os momentos de alegria e fraternidade.
LURDES MUTOLA: A ESCOLA VS DESPORTO
Maria de Lurdes Mutola nasceu com o amor ao desporto. Vezes houveram em que faltou à escola para poder participar em treinos de futebol nos bairros circunvizinhos e no bairro do Chamanculo. Os pais de Mutola aborreciam-se com esta atitude de Mutola, pois os estudos deveriam estar em primeiro lugar nas opções de qualquer criança. Os pais de Maria de Lurdes Mutola privilegiavam os estudos como a forma mais correcta preparar o seu futuro de um ser: Contudo, a atracção pelo desporto continuava desviando as atenções de Mutola.
Foram vários os episódios em que Lurdinha preteria a escola para se dedicar à pratica do desporto. Contudo, ela sempre se manteve com aluno cumpridora. E quando se tratava de prestar provas na escola, Lurdinhas sempre dava o seu máximo e conseguia ultrapassar as dificuldades e acabava sempre por passar de classe. Mas os pais querem mais aplicação na escola e decidiram aplicar um correctivo na sua vida: mandou a Lurdinha para a Maxixe, na província de Inhambane. Al ela ficaria a viver com a sua irmã mais velha, Gina. Lurdes viveu com a sua irmã durante cerca de 3 anos. Longe dos pais e dos amigos parecia que ela corrigia essa predilecção pelas actividades extra-escolares. Essa mudança era, porém apenas aparente. Ela aprendera a conciliar melhor escola e desporto. Nessa província de onde eram originários os seus pais, Maria de Lurdes progrediu nos estudos e na preparação física.
Após esses três anos, Gina muda-se para o Norte de Moçambique. Lurdes Mutola regressa a casa, no Chamanculo. Não está ainda resolvida da questão da sua ligação com o desporto. Com uma agravante: como em Inhambane ela era uma das raras meninas a praticarem desporto. Ela aprende a conviver com rapazes e a relutância dos pais em relação a esse “hobby” passa a ganhar uma nova dimensão. Ficava claro: o desporto já não era uma simples “passatempo” de adolescente. Era uma entrega de alma e coração.
Na altura, tinha começado um torneio de Futebol feminino entre bairros na cidade do Maputo. Falava-se de uma “craque” que jogava muito bem e convocava a atenção de um vasto público. Um dos momentos mais marcantes da história de Lurdinha foi quando num belo dia, a família Mutola descansava, em suspiro aliviado, convencida de que Maria de Lurdes Mutola estava na escola a estudar. No caminho de regresso para casa, o pai Mutola comentava com um colega de trabalho, o bom comportamento de sua filha Lurdes agora dando preferência às obrigações escolares. O colega sugere que passe, por um campo desportivo onde decorria o campeonato feminino da UFA. Entusiasmado, o amigo lhe refere que se fossem a tempo de assistir a uma partida de futebol feminino poderiam comprovar a existência de uma tal rapariga que, segundo se dizia, jogava melhor que os homens. A moça era rápida, inteligente e, sobretudo, marcava belos golos e fazia fintas inacreditáveis.
Chegados ao campo, João Mutola quase caía de costas. A tal jogadora exímia era a sua filha, Maria de Lurdes. O pai não foi capaz, no momento, de apreciar as qualidades atléticas da filha. Sentia-se enganado e, mais do que castigar a filha, culpou-se da sua ingenuidade ao acreditar que a filha se havia rendido à primazia dos estudos.
Em casa, houve conversa. Mutola entendeu que não valia a pena usar “fintas” nessa sua relação com os pais e com as suas preferências. Ela convenceu os pais que a verdade seria o caminho mas, para isso, deveria haver alguma cedência por parte deles. Lurdes passou a praticar desporto com meio consentimento dos pais. Ingressa no futebol Masculino, inscrevendo na equipe masculina do Águia d’ Ouro.
Durante as partidas de futebol masculino, somava-se a contestação de populares à das entidades oficiais. Todos insistiam que Lurdes Mutola deveria mudar de rumo. Para eles, ingressar no futebol masculino era ilegal. Foi então que surgiu José Craveirinha na vida de Maria de Lurdes Mutola.
JOSÉ CRAVEIRINHA – O PAI POETA DE LURDINHA
José Craveirinha o poeta conceituado de Moçambique de dimensão Internacional conhece pessoalmente Maria de Lurdes Mutola numa partida de futebol masculino no campo pelado da Mafalala – um bairro suburbano da cidade do Maputo. O poeta admira a sua capacidade de jogar com os homens, a sua coragem e a forma como corria com a bola. José Craveirinha aproximou-se de Maria de Lurdes Mutola e sensibilizou-a a mudar de desporto. A participação de uma jogadora com a categoria de Mutola poderia valorizar o desporto feminino de Moçambique.
O poeta apresentou a atleta ao seu filho treinador de atletismo no clube Desportivo de Maputo, com quem começou a treinar e praticar atletismo. Depois de várias tentativas de desistência Maria de Lurdes Mutola decide levar o atletismo a sério sem renegar o futebol. Durante um tempo ela divide-se entre as duas modalidades: participava em partidas não oficias enquanto procurava concentrar-se no atletismo.
Os pais de Mutola apoiaram finalmente a decisão de Mutola de praticar atletismo, uma vez que era um desporto mais aceitável. Mas mantinha-se ainda a condição imposta desde o início: a filha deveria prosseguir os estudos. Maria Mutola poderia correr e jogar mas nunca deveria desistir de estudar. E foi o que sucedeu.
Em 1986, Lurdes Mutola participa nos jogos Olímpicos de Seul com 14 anos. A primeira reacção foi quase sucumbir à grandiosidade do evento. Mas depois reage positivamente e ganha coragem para tomar parte em eventos de grande envergadura.
MUTOLA A CAMPEÃ
Respondendo as condições impostas pelos pais de Mutola, as autoridades Moçambicanas e instituições desportivas lançam uma campanha para a busca de apoio para atribuição de uma bolsa de estudos para Maria de Lurdes Mutola. As opções dividiam-se entre Portugal e Estados Unidos da América com algumas tentativas para a Rússia e outros países do Lesta. A decisão foi tomada: Estados Unidos da América, para onde Maria de Lurdes Mutola seguiu com uma Bolsa da Solidariedade Olímpica.
Já a viver nos Estados Unidos, a ligação de Maria de Lurdes Mutola com a família orna-se maior, pois Mutola sentia saudades da família e dos amigos. Nas férias, sempre que pudesse, regressava a casa e visitava a família. O Pai, João Mutola, segundo Maria de Lurdes Mutola, era seu aliado nas batalhas que cruzava – dele vinham sempre bons conselhos, não só de pai para filha mas de amigo e de um fã incansável. Lurdes Mutola recebe um conselho do pai, que a pede em confissão para prometer e jurar nunca mudar a sua nacionalidade. O pai de Mutola, um operário humilde fez questão de ouvir a promessa e o juramento de Maria de Lurdes Mutola para que nunca aceite, perante qualquer proposta, nem que fosse milionária, nunca mudar da sua nacionalidade, pois Moçambique é um povo humilde que lutou pela liberdade e nunca aceitará um filho (a) que por qualquer proposta aceitasse “vender” a nacionalidade do país.
João Mutola disse a Maria de Lurdes Mutola que o país de que ela é originária é pobre e não a poderá oferecer tanto quanto os outros países poderiam oferecer-lhe, mas o amor e o carrinho que o país tem por Lurdinhas, não tem preço e nenhum dinheiro no mundo poderá comprar a emoção e amor de um povo.
Maria de Lurdes Mutola ouviu o conselho do pai, e memorizou aquele momento, do mesmo jeito que memorizou os conselhos para nunca parar de estudar. Pouco tempo depois, quando a estrela Mutola começa a brilhar no mundo do desporto, surgem muitas propostas para que Maria de Lurdes Mutola mude de nacionalidade. Lurdes Mutola nunca aceitou as propostas, mesmo sendo elas milionárias e mesmo estando ela a precisar das promessas oferecidas em troca da nacionalidade, nunca voltou atrás com a promessa que fizera ao pai.
O momento mais triste da vida de Mutola, foi quando no meio de uma prova é-lhe informada sobre o falecimento do pai. João Mutola perde a vida num acidente de viação
Hoje Maria de Lurdes Mutola é a Mulher Mais feliz do mundo, porque conseguiu mesmo sendo de um país mais pobre do mundo, o que ninguém no mundo do atletismo consegui.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário