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VICENTE LUCAS

23/11/2011




Nome: Vicente Lucas
Data de nascimento: 24-9-1935
Naturalidade: Lourenço Marques, Moçambique
Posição: defesa central no Benfica

Do sítio “portuguese futecolcom, pode-se ler:

Vicente Lucas, irmão de Matateu, também se deixou tentar pelo
Belenenses e também tinha uma alcunha, lá no Alto Mahé. Mas,
talvez por ser nome complicado, não o acompanharia pela vida.
Chamavam-lhe Mandjombo, que em landim significa muita sorte.
Mandjombo não seria, depois da glória de magriço. Ironias do
destino…

Parece que, de facto, Vicente era um mocinho sem problemas,
alegre e feliz. Em miúdo, jogou no Acrobático, juntamente com o
Mário Coluna, agremiação de bairro onde o futebol corria ao jeito
de tempo de lazer. Na idade dos juniores, ingressou no 1.º de Maio, pelo qual já passara o mano Matateu. Severiano Correia, apesar de ele ser ainda muito novo, integrou-o na selecção de Lourenço Marques que defrontou a África do Sul.Com 16 anos já alinhava na primeira categoria do 1.º de Maio, em qualquer posição, indiferentemente.

Entretanto, em Lisboa, Sebastião Lucas da Fonseca insistia com os amigos: «O Vicente? É melhor que eu.» Adivinhe-se, pois, o alvoroço das gentes belenenses quando o clube resolveu chamar o irmão do homem que, num ápice, chegara a ídolo. Vem aí o Matateu II, dizia-se, então… Vicente teve mais dificuldades que Matateu em despegar-se da família.


Era muito novo para se meter em aventuras. D. Maria Heliodoro temia que acontecesse alguma coisa má ao seu menino, tão bom e amigo da família. Tentou dissuadi-lo: «Tu vai partir perna…»< «Matateu II, não! Eu sou Vicente…»
Mas Vicente, estimulado pelas cartas do irmão, estava mesmo decidido. Fez viagem no Pátria, três semanas sobre o mar. Chegou a Lisboa no dia 30 de Junho de 1954. Vítor Santos, em A BOLA do dia seguinte, descreveu o ambiente invulgar que se vivia no Cais da Rocha do Conde de Óbidos, onde afluíra muita gente à espera do Matateu II. Vai ao pormenor de dizer que o jogador fora recebido pelos directores do Belenenses, pelo irmão Matateu e por vários associados do clube, às nove horas e vinte e seis minutos!

Mais minucioso não poderia ter sido. Também conta que, ao chegar-se ao recém-chegado e ao tratá-lo por Matateu II, ouviu-o esclarecer: «Matateu II não! Eu sou o Vicente.» Tinha chegado à cidade, que logo o encantou, o jogador que havia de ser o melhor médio de cobertura de todas as equipas portuguesas, um homem simples e atleta irrepreensível.






Dele dizia Carlos Pinhão que joga va em bicos de pés, mas nunca se punha em bicos de pés. Assim era.

Anular Pelé sem a faca-na-liga…

Com 19 anos, fez o primeiro jogo pelo Belenenses, no Estádio Nacional, defrontando o Atlético, na festa de homenagem a António Feliciano e a Rogério de Carvalho. A crítica salientou que o novo futebolista de Belém não se deixara impressionar, nem com a imponência do recinto nem com o adversário. A estreia
oficial ocorreu, dias depois, em encontro com o F. C.Porto. Vicente marcou o único golo do desafio, a passe do mano Matateu.

Exactamente a 17 de Outubro de 1954, Fernando Riera, então treinador dos azuis, um mês depois da sua chegada ao Restelo, lançou-o na posição de médio, numa partida em Guimarães, destinando-lhe como principal função a marcação de Edmur. Vicente viveu épocas seguidas de sucessos.

Apurou a sua arte inigualável de desarmar e de passar, até meteu alguns golos, e sobre as virtudes técnicas uma postura de correcçãoe respeito pelos adversários que nunca se alterou. Por assim ser, atleta irrepreensível,mereceu da Associação de Futebol de Lisboa medalha que consagrava o fair play.

Quando chegou o Mundial de 1966, Otto Glória atribuiu-lhe a difícil missão de marcar Pelé.

Ele é meia equipa, e Vicente respondeu: «Já o marquei cinco vezes e as coisas não me correram mal.» Não disse nada que Otto não soubesse. No encontro, muito importante, com o Brasil, o médio belenense, com a sua souplesse, desarmou o grande jogador brasileiro. Antes do encontro, Vicente tranquilizou Pelé, sempre temente de adversários com-a-faca-na-liga: «Joga o teu futebol que eu jogo o meu». O magriço ganhou sem tocar no famoso antagonista, facto reconhecido pelo ídolo brasileiro nas várias ocasiões a que se referiu aos duelos entre ambos: «Vicente foi o jogador que melhor me marcou sem nunca me ter molestado.»




Apagou-se a estrela do Mandjombo…
Após o Mundial, Vicente apenas jogou dois desafios pelo seu clube, para o Nacional de 1966/67. Ainda esperava jogar mais cinco ou seis anos (na altura, tinha 30), mas um estúpido acidente afastou-o do futebol, numa triste manhã de Outubro, quando se dirigia ao Estádio do Restelo.

Organizou-se-lhe uma festa de despedida, que se projectou pelo País inteiro e por Angola e Moçambique. Por isso, esse dia foi considerado o dia de S. Vicente, tal foi o carinho que envolveu a homenagem ao simpático jogador. Com a receita da festa comprou dois andares e montou um café-tabacaria. Gorou-se o negócio e teve de vender os andares.

Foi quando resolveu mudar de vida, tirou o curso de treinador e enveredou por esta carreira difícil de desempenhar. Foi trabalhando em vários clubes, entre eles Vasco da Gama, Peniche, Desportivo de Castelo Branco e Sesimbra, onde esteve duas vezes. Na segunda vez que treinou o Sesimbra, teve como pupilo Rui Águas, que «jogava de cabeça tão bem como o pai, mas era mais forte de pernas».

Até que depois de uma visita ao irmão, figura proeminente da colónia portuguesa de Victoria (Canadá), iniciou o seu trabalho de professor de futebol, no Restelo, decorria o ano de 1981. A Escola do Vicente já é uma realidade, o magriço trabalha na sua vocação.

Mas dele se falará sempre como de um futebolista de nível mundial que o azar colheu numa manhã de Outubro. A partir daí, o moço honrado, bom e humilde, passou por momentos amargos e imerecidos, até a nível familiar. Afinal de contas, o mandjombo não o foi tanto como isso…




Vidro que destruiu homem bom…
Numa manhã de Outubro de 1967, perto do Estádio do Restelo, Vicente Lucas sofreu o
acidente que lhe cortou a possibilidade de jogar futebol por mais épocas. Numa entrevista concedida a Carlos Pinhão, em Outubro de 1981, contou: «O condutor do outro carro fez uma manobra perigosa e eu, para não o apanhar, fiz um desvio, bati num poste e foi um vidro que me atingiu o olho. Tive de pegar na chave de fendas para que ele me trouxesse aqui, ao Restelo, no seu carro.

Tinha a cara cheia de sangue, mas não me tinha apercebido de que a coisa era assim tão grave…
» Mas era. De tal forma que os médicos nada puderam fazer para lhe salvar a vista direita. Com 30 anos, e o rendimento por usufruir da sua excelente participação no Mundial de Inglaterra, o magriço só muito tempo depois conseguiu recuperar da infelicidade que o atingira.




Vicente Lucas, pessoa humilde e pouco dada a discursos, nunca gostou que se ligasse a sua ausência na defesa portuguesa ao afastamento da equipa da final, mas houve semprequem lho recordasse: ganhámos à Bulgária, ao Brasil, à Hungria e à Coreia do Norte, como Vicente em grande plano. O Vicente não jogou com a Inglaterra e nós perdemos…

No encontro com a Coreia sofreu fractura de uma mão, por isso não pôde alinhar nas
meias-finais, contra a Inglaterra, mas nunca ninguém conseguiu ouvir da sua boca a
assunção de que com ele em jogo as coisas pudessem ser diferentes.

Aliás, também nunca empolou a sua especial vocação para marcar Pelé, que por seis vezes banalizou,através de um futebol sempre limpo, sem uma jogada súcia. Sobre o seu estilo, muito trombeteado pelo France-Football, diria o Daily Mail, após a saga dos Magriços: «Vicente é o mais fino defesa do Mundo.» Mas, como o destino é cruel, não muito depois estava incapacitado para o futebol.

Por causa de um estúpido acidente…
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