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Portugal repete um só grito de maneira incondicional: "Briosa!"

22/05/2012

  Por João Victor Gonçalves



  Enfim, o bravo peito acadêmico pôde soltar o grito de campeão. Todavia, assim como toda a trajetória gloriosa da Associação Académica de Coimbra no desporto português, não sem passar por momentos de suspiro e expectativa. Essas duas palavras resumem bem no que se converteu o duelo entre Sporting e Acadêmica, que valeu a quebra de um jejum de 73 anos sem conquistas da Taça por parte da Briosa, que havia vencido a primeira edição do certame em 1939, e de 39 anos sem lograr nada para seu palmarés, já que a última taça garantida pela representação da "Cidade dos Estudantes" havia sido a Liga de Honra da Temporada 1972/73.

Foto do plantel da Académica Campeão de Portugal em 1939

  Antes mesmo de o esférico rolar sobre o relvado do mítico Estádio do Jamor, o clima de tensão já tomava conta de Portugal: de um lado, um Sporting sofrido, desfigurado por suas últimas fracas campanhas em nível nacional, mas motivado pelo honrado quarto posto na Liga Europa e pela ascensão dos homens de Sá Pinto, simbolizados pela figura de Wolfswinkel, grande símbolo da esquadra leonina; do outro, a “mais Briosa de Portugal”, que apostava na decisão a esperança de alento a seus torcedores não só numa temporada, mas também em toda a década. O modesto 13º lugar na Liga Portuguesa retratava um ano de altos e baixos para a alvinegra, tendo como consolo a garantia de vaga nas competições europeias graças à desistência de outras equipes do 1º escalão nacional.

Conhecida por sua consciência política e caráter contestatório, massa de adeptos da Briosa protesta durante Final da Taça de Portugal

  Mal o apito de Paulo Baptista havia soado pela primeira vez no histórico gramado de Oeiras, a maior emoção do confronto fazia palpitar de maneira incondicional o coração dos adeptos da Académica: numa rápida escapada pelo flanco esquerdo, Diogo Valente, encarnando o espírito dos desbravadores lusitanos, levou toda a defensiva sportinguista e cruzou de maneira certeira para Marinho, com um toque, escrever seu nome na história da equipe coimbrã: cabeçada precisa, indefensável para Rui Patrício. O balançar das redes era um mero eco da comemoração incontida dos “capas pretas” no Jamor e o placar já apontada o histórico Briosa 1-0.

Exato instante em que o esférico encontrava as redes de Rui Patrício, num dos gols mais importantes da história da Associação Académica de Coimbra

  Após sofrer o gol, um estado de letargia pairou sobre os leões, que não conseguiam se encontrar e viram a Briosa chegar mais uma vez com perigo no cabeceio de Edinho. Alguns minutos depois, porém, consciente da necessidade do empate para evitar uma derrota inesperada, os jogadores leoninos partiram ao ataque, tendo como grande expoente no primeiro tempo a cabeçada de Elias defendida sem maiores esforços por parte de Ricardo. Aos 46 minutos, encerrava-se o primeiro tempo, com a certeza de que, caso o Sporting repetisse a atuação da etapa inicial no período complementar, dias de júbilo e festa estarão próximos para os adeptos de Coimbra.

Jogadores, comissão técnica e diretoria comemoram ao lado da almejada taça

  Depois do descanso, a equipe de Pedro Emanuel quase consegue sacramentar a vitória num rápido contra-ataque, que pôs Edinho frente a frente com o arqueiro Rui Patrício. No duelo de duas grandes figuras da Final, melhor para o arqueiro alviverde, que evitou o tento numa saída arriscada e precisa. Três minutos depois, o coração dos adeptos da Briosa era testado mais uma vez, quando Edinho falha bisonhamente na conclusão daquele que seria o tento consagrador dos homens de preto.

Eis os 11 homens que entrarão para a história da Briosa, como titulares na partida mais importante da AAC no Século XXI

  O castigo, como historicamente ocorre às equipes de menor expressão no desporto luso, viria “a galope”: no minuto seguinte, Wolfswinkel, grande esperança de gols do quadro lisboeta, sai na cara do arqueiro Ricardo, que conta com a iluminação divina e uma boa dose de competência para barrar a ida do esférico ao gol com o pé. A partir daí, a partida se transformou num duelo de “ataque contra defesa”, com os homens do Sporting partindo sedentos em busca da vitória, enquanto os “acadêmicos”, como que dotados de uma força sobrenatural, defendiam sua cidadela que parecia instransponível aos rivais.

Confira o histórico gol de Marinho que valeu a taça à Briosa

  E, de fato, até o apito final de Paulo Baptista, as redes da Acadêmica, abençoadas, não foram tremuladas em nenhuma oportunidade, comprovando o caráter intransponível de sua defensiva. Como que por um capricho do destino, a ânsia dos adeptos sportinguistas, que tanto proclamaram a vitória precoce na decisão, com gritos de “Segunda Divisão” a poucas semanas aos adeptos de Coimbra, teve que ser convertida num choro amargo, com sabor a decepção. Não havia, porém, espaço para lamentos no Jamor: a tristeza e euforia de uma das torcidas mais sofridas do mundo estavam sendo convertidas em risos e gritos de comemoração.  Um grito apenas ecoava: “Académica Campeã!”.

Ouça o hino da Associação Académica de Coimbra, Campeã da Taça de Portugal 2011/12. Parabéns Briosa!

  A festa que se seguiu pelas ruas de Lisboa e no trajeto até a cidade universitária de Coimbra teve as proporções do “jejum” de conquistas da alvinegra. Todavia, o título da Taça logrado pela Briosa tem um “quê” de especial, diferentemente do que seria se fosse conquistado por Benfica, Sporting ou Porto, pois reflete todo o espírito de luta de uma massa estudantil que almeja, em seus ideais, um novo Portugal. Reflete o senso crítico de uma equipe que, a exemplo de 1969, bradou as necessidades de um país sufocado pelo seu caráter nostálgico e por uma falta de perspectiva que aflige toda a Europa. Acima de tudo, reflete o brilho máximo de uma cidade que formou inúmeras gerações intelectuais de destaque no mundo, com suas descobertas, opiniões ou, simplesmente, modo de agir. De tantas formas poderíamos encerrar essa matéria, com tantas frases de efeito... mas nenhuma resume esse histórico feito da Briosa como as proferidas pela imortal Amália na canção que imortalizou a cidade-berço desta Associação Gloriosa:  “Coimbra das canções/Coimbra que nos põe/ Os nossos corações à luz.../ Coimbra dos Doutores/ Pra nós os seus cantores/A fonte dos amores és tu.”
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