Minas Gerais tem mais um clube de futebol que chega a 100 anos de vida.
Neste sábado, 26 de maio de 2012, o Tupi Football Club, ou simplesmente
Tupi, de Juiz de Fora, completa um século de fundação. Nesse período,
além de títulos regionais, de melhor clube do interior do Estado e da
recente conquista da Série D do Campeonato Brasileiro, em 2011,
destaca-se um time que ficou conhecido como o “Fantasma do Mineirão”,
repleto de jogadores formados na base do clube e que bateu América-MG,
Atlético-MG e Cruzeiro, no Mineirão, além de ter empatado com a Seleção
Brasileira, de Pelé, Garrincha e companhia, campeã mundial.
A trajetória desse time espetacular começa em 1965. O Galo Carijó,
apelido da equipe juizforana, amargava a lanterna do Campeonato
Regional, competição tradicional da Zona da Mata na época. Quem contou a
história foram alguns dos principais personagens do clube nesses 100
anos: o meio-campo Toledo, considerado o maior ídolo do Tupi em todos os
tempos; o ponta-direita João Pires, que tinha o futebol comparado ao de
Mané Garrincha; e o técnico Geraldo Magela, sempre “convocado” quando o
alvinegro passava por momentos delicados.
Em 1965, o time terminou o primeiro turno em último lugar no Campeonato
Regional. Fiz algumas mudanças, puxei muitos garotos da base e formei um
time de jogadores que tinham o interesse de crescer. Ao todo, nossa
equipe tinha nove jogadores formados na base. Sempre valorizei atletas
da cidade, porque eles têm vergonha de perder e depois sair na rua. Por
isso, corriam mais. Com esse time, ganhamos o segundo turno e, na final
do Regional, batemos o Olimpic, de Barbacena - explicou o então técnico
Geraldo Magela.
A partir daquela conquista, Magela e aquele grupo de jogadores
começaram a escrever um dos capítulos mais marcantes na história do
clube. No ano seguinte, em 1966, o Tupi convidou o Cruzeiro para um jogo
festivo em Juiz de Fora, já que a Raposa havia ganhado o Campeonato
Mineiro. Esse mesmo Cruzeiro bateria o Santos, de Pelé, na final da Taça
Brasil.
- Sempre havia um amistoso do campeão daqui com o campeão da região de
Belo Horizonte. E, em 1966, o campeão foi o Cruzeiro. O time tinha
Dirceu Lopes, Tostão, Evaldo, Piazza, um timaço. Eles vieram jogar no
campo do Tupi, e ganhamos por 3 a 2. Fiz os três gols do nosso time -
relembra o meio-campo Toledo, que atuou até os 40 anos com a camisa do
clube e nunca aceitou propostas para defender outra equipe.
- Chegamos a fazer 3 a 0, mas, como era um jogo festivo, fiz
substituições, e acabou 3 a 2. Os jornais de Belo Horizonte disseram que
choveu naquele dia, por isso tinha dado aquele resultado. Como se
tivesse chovido só para o Tupi... - relembra o técnico da equipe.
Naquele dia, o Tupi jogou com Waldir (Hélio); Manoel, Murilo (Sabino),
Dário e Walter; Mauro (Paulinho), França (Jorge Guimarães), João Pires e
Toledo; Vicente e Eurico (Joel). Essa era a base que ganharia o apelido
de “Fantasma do Mineirão”. Já a Raposa atuou com Tonho; Pedro Paulo,
Vavá, Dilsinho e Neco; Piazza (Zé Carlos), Dirceu Lopes (Hilton Chaves),
Natal e Evaldo; Tostão e Hilton Oliveira (Dalmar).
Depois da surpreendente vitória sobre o Cruzeiro, o Atlético-MG
resolveu convidar o time Carijó para um amistoso no Mineirão. Seria a
primeira vez da equipe de Juiz de Fora no maior estádio de Minas,
inaugurado no ano anterior. E o convite, por sinal, tinha como objetivo
provocar o arquirrival celeste, já que os atleticanos davam como certa a
vitória, que serviria para ironizá-los.
- O Galo nos convidou para jogar no Mineirão, coisa que nunca tínhamos
feito na vida. E isso foi para vingar o Cruzeiro, para fazer gozação com
eles. Levamos um susto com o estádio, um monstro daqueles. Quando
entramos em campo, vimos aquela torcida enorme. O Geraldo Magela, o
maior técnico que já vi no futebol, viu que todos estavam nervosos, nos
chamou de volta ao vestiário e colocou nossa cabeça no lugar. No fim,
vencemos por 2 a 1, e eu marquei o gol da vitória - conta João Pires,
ponta-direita rápido e habilidoso, peça fundamental no esquema montado
por Magela.
Com vitórias sobre dois grandes de BH, coube ao América-MG a missão de
tentar vingar os coirmãos. Novo amistoso foi marcado, e nova vitória
juizforana.
- Depois das vitórias sobre Cruzeiro e Atlético-MG, o América-MG nos
chamou. Na época, eles tinham mais força do que agora, e acabamos
ganhando por 2 a 1 - relembra Magela.
Saga do Fantasma não parou no Mineirão
Depois dos bons resultados em Belo Horizonte, o técnico da Seleção
Brasileira, Vicente Feola, resolveu convidar o Tupi para um jogo-treino
contra Pelé e companhia. A equipe se preparava em Caxambu, cidade do sul
de Minas, para a Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966.
- João Pires fez o gol do Tupi, e Feola pediu para prorrogar o
treinamento. Já tinha uns 50 minutos. Aí, ele mudou o time todo, e eu
não tinha como trocar, porque os reservas não eram tão entrosados. O
Servílio fez o gol de empate da Seleção, e o amistoso terminou em 1 a 1 -
recorda Geraldo.
Alguns dias depois, em novo amistoso com a Seleção, o Tupi acabou
derrotado, em Três Rios, por 3 a 1, mas o placar poderia ter sido mais
apertado, caso o atacante Joel não tivesse desperdiçado um pênalti no
fim. Mas outro capítulo interessante com a equipe Canarinho aconteceu
ainda em Caxambu.
Quando acabou o jogo, estávamos no hotel, e teve um alvoroço, com rádio,
televisão, todo mundo na porta. De repente, o Pelé desceu do carro e
perguntou quem era aquele loirinho que tinha dado um trabalho danado no
jogo. Me chamaram, e ele me deu uma foto. Ele falou que eu tinha dado
trabalho. Pela foto, muitos dizem que era eu quem estava marcando o
Pelé, mas eu digo que era ele que estava me marcando - diz, aos risos,
Toledo.
O Tupi dos dias de hoje
Em 2011, o Tupi conquistou um dos maiores títulos de sua história, o de
campeão brasileiro da Série D, o que lhe rendeu vaga na Série C deste
ano. Um dos personagens dessa conquista relembra a emoção por entrar
para a história do clube.
- Foi uma campanha maravilhosa, muitos não acreditavam quando iniciamos
o trabalho. Mas com um grupo bem unido e com o trabalho bem feito do
técnico Ricardo Drubiscky, conseguimos trazer o título para Juiz de Fora
- conta o atacante Ademílson, grande ídolo da equipe atualmente.
Para a Série C, recentemente adiada e sem data marcada para início, o
Tupi tem se preparado, mas atravessa as mesmas dificuldades de qualquer
equipe do interior. Mesmo assim, o presidente Áureo Fortuna mostra
planos ousados.
- O orçamento do Tupi sempre foi simples, temos bom apoio, mas ainda
não é o suficiente. Nossa fórmula para essa ascensão é sempre tomarmos
decisões com base na opinião de um colegiado, onde pensamos, junto com a
comissão técnica, quem deve sair ou ficar no elenco, as contratações e
nosso planejamento. Nosso objetivo é alcançar a Série C, mas foi tão bom
sermos campões.
Um obstáculo enfrentado pelo clube, no que diz respeito à arrecadação,
está estritamente ligado ao seu quadro de sócios. O Tupi ostenta um
patrimônio de R$ 30 milhões. O clube tem quase cinco mil associados, mas
apenas 58 estão ativos e em dia com a taxa de manutenção.
- Temos ainda cerca de 1.400 sócios remidos que não contribuem com
nada, e desses, cerca de 300 frequentam o clube. Felizmente o novo
conselho detectou isso e vamos convidar todos os associados para uma
reunião, porque clube nenhum sobrevive sem taxa de manutenção. Se isso
continuar, em dez anos o Tupi pode decretar falência.
Uma das saídas para resolver o problema financeiro foi criar uma
galeria com lojas, em uma parte obsoleta da sede social. De acordo com
Fortuna, a medida impediu que todo o patrimônio do clube fosse a leilão.
Além disso, o dinheiro obtido com o aluguel permite que o Tupi tenha
equilíbrio entre receitas e despesas.
- Nosso objetivo é nos tornar a terceira força de Minas Gerais em pouco tempo - conclui o dirigente.
fonte globoesporte.com
Tupi completa 100 anos depois de parar até a Seleção
26/05/2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário